domingo, agosto 23

Descombinar


Nada estava combinando. O homem morto sem amigos, sem alguém que levasse o caixão. Morreu sem gritar. Encontrado numa cama vestido em roupas sem combinar. Algum evento no seu corpo tornou - o menos humano: Por não dizer, por não falar, por não andar. E todos os outros também menos humanos mutilados de coração, não estenderam nenhuma das mãos e lamentavam o sacrifício de lidar com a condição que nos põe medo. A família não combinava com ele. Aquela terra, onde está hoje também não. Quem segurou a alça do seu caixão? Até onde somos capazes de perdoar? Até a morte, que parece trazer em si algo de sacro para as pessoas? Não combinou com o dia, nem a cena deveria rodar para as crianças. Nada estava no lugar. Talvez este desarrumado da vida seja justamente o que a faz combinar conosco, pobres, aleijados, calejados humanos. Nada estava combinando.

A solidão que sentia não queria vestir hoje. Quis me refugiar dentro de mim, mas mesmo invadida ainda resta algum lugar para-correr-para. A confusão que se arma é quando tentam me tirar de lá. Ainda doem meus olhos ao encontrar com a luz. Ainda resisto pois lá me sinto segura. Qual ameaça do lado de fora? Quem entra não é inimigo, é o dono da casa. É que neste dia, eu não combinava com nada. Até pensei em ir na missa, tal estado de espírito. Minha empatia foi ao extremo, homem que já nem compunha mais meu quadro da rotina, me causou estranhamento. O que nos aproxima está além do sangue, amizade ou qualquer coisa. O que nos aproxima é o fato de sermos humanos.. o medo de pensar - se na mesma situação.. A reprise de uma notícia no mesmo dia, em outros tempos, da mesma situação. Meu Deus, a roupa da minha alma não combinava com nada.. só com o meu coração. Veja aí em teu guarda roupa se não tem um vestido cinza pra hoje.. pra combinar com o céu ou com este mar...

domingo, agosto 16

Do Futuro


Um copo de água, um passeio na praia, um diploma nas mãos e os filhos crescendo. Futuro agora, mais tarde, semana que vem. Vamos falar de futuro, das coisas que queremos, dos sonhos e caminhos para buscá - los. Futuro agora, passo a passo. Pensamento que não deve adiantar - se no tempo, perder - se neste túnel e tornar - se cego para o hoje. O futuro entre cada tic tac. Não é imediatismo! Cada coisa tem o lugar certo para estar. A ligação, o relatório, as coisas boas e aquelas nem tão boas assim. O que o futuro está pedindo, o que eu vou fazer com ele? Logo logo é passado, esse texto, um email, um retrato! Futuro nosso de cada dia...estrada minha cheia de pedras.. Por que nos apressar se é por causa delas que seremos gente? Meu tempo futuro meu em cada dia construído na tranquilidade de ser o que escolher, e não o que ditam pra mim.

Será?

Enfim.

N0t4: Faxina

O Cont4as V3rbai5 fez aniversário e eu sequer passei aqui. Estou imersa na rotina, no trabalho, na pressa que nos estressa.. e faltou inspiração. Em outros palcos tenho escrito, mas daqui tenho fugido, com também de outras coisas. De recitar um desses escritos para algumas pessoas, por exemplo.. Textos, ganham vida, precisam de outras roupas que talvez nem cairiam bem nestes daqui. Tenho pensado em Deus, em voar e na morte da bezerra. A caixinha da inspiração cheia de teias de aranha.. Aos poucos vou faxinando. Ademais, Feliz Aniversário, meu Diário Virtual.