segunda-feira, julho 9

Religare


Reza pro Santo Dinheiro
Pela graça desgraçada
Da família violada
Pinta de ouro a alma
Reza não salva, reza não salva
Pede pro Santo Dinheiro
Dormir bem no travesseiro
Tempo corre, desespero
A prece fica no meio
Reza não salva, reza não salva
É gente? é cifra? é níquel? é nada.
Reza pro Teu Dinheiro
E pede sabedoria
Mastiga em agonia
Arrota só fantasia
Reza não salva, reza não salva
É gente? é cifra? é níquel? é nada.
Reza pra ter Dinheiro
Tudo que vale é prata
Com ela se compra a Graça
O preço do tudo ou nada
É só a reza que não salva,
É só a reza que não salva

Fome no Banquete


Na tua mesa se põe o que?
Verdade absoluta
Bonita maçã robusta
Com a podridão por dentro
Na tua mesa se põe o que?
Coisa boa de inglês ver
Abraço em pratos rasos pra comer
Palavras que desmancham no vento
Na tua mesa se põe o que?
Além das moscas e das larvas
Tua gula, por dentro, mata
Por algo que não é alimento:
APARÊNCIAS.

A Ponta do Lápis



Faxinava os pensamentos
Sangramentos incurados
Inesperado o momento
Do argumento indignado


Quebrou a ponta do lápis!


Sem a grafite da ousadia
Agonia dos mal amados
Invernou a poesia
Chovia - sem chover de fato


Nem fiz a ponta do lápis...


Intumesceu todo o pulso
Recluso que são os lábios
Disfarço qualquer soluço
Escuto - o som vem áspero


Guardei na gaveta o lápis.


Tinta crua, enfervescente
Milagrosamente sai ao acaso
Um rastro de Sol nascente
Aquece no rosto o sumo ralo


Aprendi a escrever de pena...

Acajuh


Com você, posso escolher 
entre estar só ou acompanhada
ser menino ou menina
ser gente ou coisa abstrata
Reinventar a Criação
morrer agora ou mais tarde
me aventurar no imaginário
fazer de uma nuvem, echarpe
Sem você o tempo me parte...
distende o músculo de respirar
fratura o sorriso - que já é inventado
lacera o tato de imaginar
Acajuh é a cor dessa alma
das onze ou doze que tenho direito
ser monólogo - e me sentir acompanhada
beber da calma - com pensamento ligeiro.


Dedicado ao dono daqui.

Aos Cuidados da Dor



Com o tempo, a conquista se desarma
Qualquer permissão se aprisiona
No coração o sonho faz redoma
O verbo vem desacertar a boca
A órbita sofre um reboque - solta!
O desejo desabitando as mãos

Palácio vazio, de tons góticos
Um eco imenso nas abóbadas
Os pés lacerados, pela via torta
O padrão do mosaico é monotonia
Reflete cores no chão, sem ousadia
Poeira nos bancos, sem joelhos no chão

Com o tempo a invenção desbota
As ondas voltam e o mar distancia
Os punhos cerram, o hálito esfria
Os nomes abandonam as coisas
Até o canto desencanta a moça
A água suja transborda a bacia

E não é mais possível lavar o amor

Nem escrever sem que a dor tome conta