terça-feira, fevereiro 12

Galope



Ígneas bolhas de sabão farão, no céu,
clarão tamanho que terão meus olhos incendiado,
meu pés paralisados,
posto que trota o coração, tão contente reluzente
num corcel endiabrado,
trazendo nas mãos tesouro caro, do tempo que'u era rei.

Serei tão rarefeito que passará por mim papel picado
e entre os dedos, cada dedo,
sístole e diástole, intenso o momento imaginado.


Ígneas bolhas de sabão, clarão no céu de baunilha, Almodovado,
curta distância, tão famintos braços,
num circular da volta-ao-mundo, nos segundos descalçados.
Pipoca. Maça. Hortelã. Cordel encantado . . .


Outono de dias caídos, frutos de feriado.
Pomares de domingos, folhas de calendário.


Cuidado, quando não voa, liquefaz os quatro lábios,
vem detrás da torre realejo do vosso encanto,
em nome do pai, do filho e do sagrado,
livrai-nos dos nós, amém!
Bendito Santo dos Apaixonados...


terça-feira, agosto 14

Oitavo Mês


Agosto, dos desgostos
amassando de novo
esse clichê malarrumado.

Agosto das voltas por cima
das voltas pra terra, na morte
das voltas pra mim, à vida...
Agora o agosto deslumbra
um terno frescor de paciência
de envelhecimento e luta
por uma cor sob o inverno
Agosto esgotador das energias
dos meus calos e mãos doloridas
de pressionar redesenhar as dores
que não sangram - mas ensinam.

segunda-feira, julho 9

Religare


Reza pro Santo Dinheiro
Pela graça desgraçada
Da família violada
Pinta de ouro a alma
Reza não salva, reza não salva
Pede pro Santo Dinheiro
Dormir bem no travesseiro
Tempo corre, desespero
A prece fica no meio
Reza não salva, reza não salva
É gente? é cifra? é níquel? é nada.
Reza pro Teu Dinheiro
E pede sabedoria
Mastiga em agonia
Arrota só fantasia
Reza não salva, reza não salva
É gente? é cifra? é níquel? é nada.
Reza pra ter Dinheiro
Tudo que vale é prata
Com ela se compra a Graça
O preço do tudo ou nada
É só a reza que não salva,
É só a reza que não salva

Fome no Banquete


Na tua mesa se põe o que?
Verdade absoluta
Bonita maçã robusta
Com a podridão por dentro
Na tua mesa se põe o que?
Coisa boa de inglês ver
Abraço em pratos rasos pra comer
Palavras que desmancham no vento
Na tua mesa se põe o que?
Além das moscas e das larvas
Tua gula, por dentro, mata
Por algo que não é alimento:
APARÊNCIAS.

A Ponta do Lápis



Faxinava os pensamentos
Sangramentos incurados
Inesperado o momento
Do argumento indignado


Quebrou a ponta do lápis!


Sem a grafite da ousadia
Agonia dos mal amados
Invernou a poesia
Chovia - sem chover de fato


Nem fiz a ponta do lápis...


Intumesceu todo o pulso
Recluso que são os lábios
Disfarço qualquer soluço
Escuto - o som vem áspero


Guardei na gaveta o lápis.


Tinta crua, enfervescente
Milagrosamente sai ao acaso
Um rastro de Sol nascente
Aquece no rosto o sumo ralo


Aprendi a escrever de pena...