quinta-feira, abril 23

O Bilhete


Toda sala tem seu próprio correio comunitário. Sim, aqueles bilhetinhos que passam de mão em mão até chegar ao destinatário. Rápido, é só escrever o nome da pessoa e enviar. Claro, existem aí inúmeras técnicas para esconde - lo do professor. Mas depois falo sobre elas, hoje quero falar de um acontecimento inusitado: eu recebi um bilhete. Meu Deeeuss, eu recebi um bilhete! Depois de anos e anos, passando pra lá e pra cá pedacinhos de folhas dobradas, te todas as cores e todas as linhas, eu... recebi... um bilhete! Mais inusitado ainda é o que estava escrito nele: Lane, como você está hoje? Como? Pera aí, deixa eu ver se entendi: me mandaram um bilhete e ainda por cima perguntaram como eu estou? Se não conhecesse bem a postura do remetente, acharia ser esta uma piada comum dos pseudopsicólogos "como você está se sentindo hoje?". Até relí! Várias vezes. Usei minhas técnicas de grafologia e analisei a estrutura sintática da frase. Fechei, verifiquei se era mesmo endereçado a mim, a assinatura.. Um olhar para o remetente também pode servir como confirmação de envio.

Devo responder, segundo a etiqueta. Como estou hoje?

a) De jeans, camiseta preta com um contorno de coração prata e sandália?


b) Bem?
Como todas as respostas comuns. Na verdade, quem pergunta como estamos não parece preocupado em saber como "realmente" estamos. Basta ensaiar o relato de um único problema que o indivíduo escorrega. Mas não parecia uma pergunta dessa natureza.


c) Estou nostálgica, deve ser o tempo. Um pouco de saudade também misturada com solidão.?
Eita que o povo que visita o blog vai acabar fazendo uma campanha para que eu faça uma terapia, RsSs.


Puxa vida. Alguém perguntou como eu estava! Na falta de costume nem soube a primeiro momento o que responder. E ninguém sabe. A distância entre as pessoas produzida pela correria e superficialidade dos dias atuais nos destreinou. Ninguém precisa virar terapeuta de ninguém, mas acredite, certas atitudes podem fazer muita diferença. Não precisa ser muita coisa, pode até ser... um simples bilhete! =]

quarta-feira, abril 15

Print Screen


(...) Mais um alguém para meu círculo de aurora boreal. Falar de qualquer coisa, de qualquer modo, a qualquer hora. És tu uma das minhas irmãs escolhidas. E esse lugar que sempre lembramos? É o por - do - sol mais belo que há. Do banco em frente parece até um lugar bom. Feliz até. Vamos entrar.
É estranho correr pelos túmulos, altos e baixos, de pedra mármore, cimento, azulejo. De que morreram essas pessoas? Me senti meio anjo novo, guardião atrapalhado das almas. Corre e passa para o lado novo do lugar, a chuva molha e acalma. A cada salto uma lembrança; ou uma morte inventada. Ricos e pobres vão todos para o mesmo lugar. Mas lá você ainda vai saber quem foi um e outro.
Ele está indo... Uma nuvem mais que cinza engole o laranja, amarelo e vermelho. Mesmo assim ainda é belo. Um quadro que gravei em imagem e sentimento. Mistura estranha de tudo que eu gosto em uma paisagem só: tempo fechado, por do sol ali naquele rasgo no tecido céu, e uma garoa que traz essa nostalgia.
Senti alegria. Mesmo sabendo que este também é o meu fim. Senti paz por estar vivendo direitinho. A morte me faz pensar na vida. Como ela está, mais pra vida ou mais pra morte? Fim de semana, Páscoa. Me viro e passo pelo portão, caminho contrário espero fazer por muito tempo daqueles que ficaram.
Dizem que espíritos também habitam a Terra. Alimentam - se de energia. Neste lugar muitos estão presentes. Dependendo da energia atraimos os bons ou maus. Se havia algum(uns) ali, naquele momento, tenho certeza de sua natureza. Quase pude me elevar.
Sem mais. Fica esse Print Screen de sentimentos.

quarta-feira, abril 1

Saudade do Meu Umbigo


Uma vontade de sujar meus pés de barro. De mergulhar em águas doces, deslizar nas pedras e cachoeiras. Imagino e posso lembrar, de acordar com a sinfonia de pássaros. É, eu sei, clichezinho de poemas, mas melhor que viver isso no poema é sentir na realidade. É chuva que cai diferente, faz um barulho diferente na terra, nas árvores.. É um vento que despenteia as copas.. Aqui não tem árvore pra subir. Não tem meu pé de manga predileto, que parece ter crescido preparando um lugar perfeito pra saborear o fruto sem ter que descer. Quero tirar um espinho do meu pé, criar estratégias pra conseguir um caju.. Passar pela porteira onde está enterrado meu umbigo. Dizem que dá sorte. Vejo de um modo diferente. Talvez sem a intenção este gesto acaba me lembrando que não devo esquecer de minhas raízes.. onde estou ligada, por mais ambientes diferentes que eu viva, por mais valores que eu questione, por mais mudanças que ocorra, é lá que está o meu umbigo. Uma saudade de correr pra não deixar as bois comerem a roupa da cerca. De passar pelas cercas, rasgar minha bermuda. Ir no tanque do umbuzeiro em época de chuva pra ver a orquestra de sapos.. Muitos sapos.. que não se vê. Só as bolhas de ar emergindo a cada nota deles.. A manhã tem um cheiro diferente.. é lenha no fogão, é café com leite fresco, do pasto em frente. A tarde é mais lilás! Com Sol lá detras da serra, onde vejo um fio de água descer.. A noite tem o dom de inspirar qualquer mau tocador de violão a tocar, amar.. Observar estrelas deitada na esteira no meio do terreiro.. toda a Via Láctea se encontra lá, é festa no céu. É uma noite que não temo mais como quando era criança, acreditando em Lobisomens de Semana Santa; afinal eu sempre fui "pagã"... Até a cama, que tem cheiro da minha avó, do lençol a fronha.. Tudo é bem melhor, bem melhor que na cidade. Talvez eu ache isso só por causa do meu umbigo, ou sei lá, uma saudade dele.. Uma saudade de lá..