Tenho medo de que você vá. Mas tenho mais medo ainda da tua inexistência ainda em vida, da falta que faz sem eu perceber e de acostumar-se a negar que a sinto e que não me permito sentir mais. Tenho medo da ilusão do que existiu, medo que falte o perdão, medo das entranhas laceradas pelo silêncio das palavras, pelo vazio do abraço. Pela ausência. São tantos ciclos abertos, fragmentos de amor, de amizade. Incógnitas passageiras na tua expressão, nas tuas mãos, nos teus silêncios. Eu não sei mais ser irmã. Não sei se soube algum dia, mas são tantas dívidas que fechei a conta. Os enigmas que permeiam nosso encontro são duros, longos.. longos demais. E eu nunca vi nenhum deles cair no chão. Talvez eu tenha me enganado em alguma bifurcação da nossa estrada. Talvez tenha feito escolhas certas, outras bem erradas, mas acho que nunca vou saber. Vejo meus defeitos em você. Ou, como deve estar fazendo análise de mim agora, apenas projeções. Meu velho amigo, tão velho quanto papiro, não queria te jogar em um copo de vinagre. É duro admitir nossa distância. É mais doloroso ainda admitir a ignorância do que aconteceu. Mas, como você sempre diz, tudo que acontece, tinha de acontecer. E nossa amizade aconteceu, assim como também o nosso desencontro.
São muitas dívidas, pra pouco desconto.